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Foto do escritorBruna Basevic

Por uma cultura de solidariedade feminina. Sororidade.

Por: Valéria Barros


Resumo: Em uma sociedade feita pelos homens e para os homens, é preciso fortalecer a cultura de solidariedade entre as mulheres, para assim, se viver em uma sociedade mais justa e menos desigual.


Palavras-chave: Sociedade, feminismo, sororidade


Abstract: In a society made by and for men, it urges to strengthen a culture of solidarity among women, so that people live in a fairer and less unequal society.


 Keywords: Society, feminism, sorority


Quando primeiro comecei a escrever este artigo, o meu intuito era intitulá-lo: ‘Por uma cultura de sororidade’ e vejam que me deparei com uma linha vermelha embaixo da palavra, li e reli, SO RO RI DA DE, que insistiu em estar sublinhada, apesar de estar ortograficamente correta. Entendi que sororidade é uma palavra que precisa ser escovada como nos ensina Manoel de Barros (2003).


“Porque eu havia lido em algum lugar que as palavras eram conchas de clamores antigos. Eu queria ir atrás dos clamores antigos que estariam guardados dentro das palavras. Eu já sabia que as palavras possuem no corpo muitas oralidades remontadas e muitas significâncias remontadas. Eu queria então escovar as palavras para escutar o primeiro esgar de cada uma. Para escutar os primeiros sons, mesmo que ainda bígrafos”.


Segui investigando o que estava guardado na palavra e recorri ao significado e, segundo o dicionário Aurélio, (1988) sororidade quer dizer sentimento de irmandade, empatia, solidariedade e união entre as mulheres, por compartilharem uma identidade de gênero; conduta ou atitude que reflete este sentimento, especialmente em oposição a todas as formas de exclusão, opressão e violência contra as mulheres. [Do latim soror, 'irmã' + -(i)dade.]


Do latim soror, irmã... curioso, portanto, que advindo de uma relação tão íntima, ainda se faça necessário abrir fissuras nesta muralha historicamente tão bem construída entre as mulheres, e assim, promover o desenvolvimento de empatia entre elas. Afinal, de que é feito esse muro?

Historicamente as mulheres estiveram sempre em segundo plano, Charles Swain em 1850 cunhou a expressão “Atrás de um grande homem, há sempre uma grande mulher”. Expressão como essa, aparentemente inocente ou, por vezes considerada engraçada, perpetua e beneficia o patriarcado. 


A realidade é que o papel a ser desempenhado pelo feminino na sociedade remonta a tempos muito mais antigos. É sabido que às mulheres foram negados inúmeros direitos básicos como, por exemplo, o acesso à educação, mantendo-as assim em seus lares e fazendo com que tivessem menos influência na sociedade e, consequentemente, na vida pública. O cuidado com a família, como atribuição exclusivamente feminina, e a condição fisiológica também são ferramentas para a construção e perpetuação de estereótipos, inclusive levando a acreditar que há diferenças cerebrais entre os gêneros.


 A sociedade moldou a mulher para que se entendesse como frágil e incapaz, mesmo que exigindo o máximo dela (esposa, mãe, trabalhadora, cuidadora, dona de casa...) inclusive ditando regras de comportamento para cada uma dessas atricuições. Para além de tudo isso, buscou justificativas científicas para tal, criando o mito de que o cérebro masculino é mais capaz do que o feminino. Segundo Gina Rippon a distinção entre os cérebros pode estar mais ligada à cultura do que às pesquisas. Para Cordelia Fine, criadora do termo neurosexismo, há um mal-uso da ciência para justificar estereótipos de gêneros.


Tal repressão foi tão bem arquitetada que somente entre os anos de 1960 e 1970 as mulheres começam a se organizar de modo a criar o movimento feminista nos E.U.A.

Para Chimamanda (2015) “Qualquer um que entenda o feminismo sabe que ele não busca divisão, e sim justiça. Ninguém que conhece a história do mundo pode dizer que as mulheres não foram excluídas. As mulheres foram excluídas porque eram mulheres”.


Segundo Simone de Beauvoir ninguém nasce mulher se torna mulher, ninguém nasce homem se torna homem, portanto, todas as normas sociais impostas acabam por reproduzir seres humanos frustrados que buscam se enquadrar em papéis previamente determinados, inclusive ditados também pela indústria e pelo comércio. Além disso, o estímulo à competição e disputa, a busca pelos padrões de beleza, especialmente para as mulheres, e os gastos exagerados em busca do inatingível, perpetuam uma sociedade esgotada, triste e compulsiva.


Este é um pequeno manifesto para que se possa refletir, reconhecer e considerar que a competitividade entre as mulheres não é nada além de uma construção cultural que beneficia a manutenção do sistema que há muito está posto. É preciso que as mulheres se apoiem porque a batalha, apesar de legítima e necessária, é também desleal.


Então, quando se deparar com uma mulher em situação de vulnerabilidade, acolha, porque cada mulher é um elo (que gostaria de chamar de ELA) e forma uma corrente que conecta o passado ao futuro, porque é da mulher a maior força da natureza.


Referência:


BARROS, Manoel de. Escova. In: Memórias inventadas: a infância. São Paulo: Planeta, 2003.


BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo: fatos e mitos. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1960.



FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio básico da língua portuguesa. São Paulo: Nova Fronteira e Folha de São Paulo, 1988.


FINE, Cordelia. Delusions of Gender: the Real Science Behind Sex Differences. London: Icon, 2010.


RIPPON, Gina. The Gendered Brain. The new neuroscience that shatters the myth of the female brain. London. The Bodley Head, 2019.


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