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Mulheres guerreiras no Brasil, entre o final do século XIX e início do século XX

Por: Sílvia Brandão


No Brasil do século XIX, na sociedade patriarcal[1], as mulheres eram vistas como seres inferiores e estavam, inclusive pela lei, submetidas ao poder masculino, devendo sempre obediência ao pai ou ao marido. Eram consideradas frágeis e incapazes de cuidar de outra coisa que não fossem a casa e a família. Naquela época, toda atuação feminina que fosse exercida fora de casa era criticada, vista com maus olhos. 

A educação formal era considerada desnecessária para as mulheres e, por isso,  manifestações em prol de sua escolarização eram desencorajadas ou mesmo reprimidas. A expectativa era a de que o bordado, a música e os saberes relacionados aos afazeres domésticos representassem a verdadeira educação feminina.

           

No entanto, mesmo diante de um contexto de exclusão e invisibilidade, surgiram ativistas femininas que buscavam promover a igualdade de direitos, incluindo o direto ao voto. Esse movimento, em seus primórdios,  foi levado a cabo por mulheres que pertenciam a famílias mais abastadas e que, de alguma forma, conseguiram estudar apesar das forças restritivas.

           

Leolinda Figueiredo Daltro, nascida na Bahia por volta de 1859, foi uma dessas mulheres que dedicaram parte de sua vida à defesa dos direitos políticos femininos. Tornou-se professora, profissão que a ajudou a criar seus cinco filhos, frutos de dois casamentos. Publicou dois livros e foi editora de três jornais.   


Em 1891, Leolinda solicitou seu alistamento eleitoral com base na ambiguidade da Constituição[2] vigente na época, mas não obteve sucesso. Sem se deixar abater pelas negativas, continuou lutando pela causa feminina.  Em 1910, no Rio de Janeiro, fundou o Partido Republicano Feminino (PRF), cujo objetivo era o de mobilizar mulheres pela luta a favor do direito ao voto. 


Em 1917, conseguiu a adesão de 84 mulheres que foram às ruas do Rio de Janeiro em uma grande passeata. A marcha não clamava apenas pelo direito ao voto, mas também defendia a igualdade de gênero, o acesso à educação e a autonomia das mulheres.

Podemos dizer que as mulheres como Leolinda, envolvidas com o movimento sufragista brasileiro e que estiveram na passeata de 1917, demonstraram coragem ao desafiar as normas sociais que limitavam fortemente a participação feminina na esfera pública e política. Desafiaram a todos que esperavam delas um comportamento cordato, submisso e nada político. Por isso, foram discriminadas e vilipendiadas por muitos.


Em toda a sua trajetória, mulheres como Leolinda Figueiredo Daltro foram ridicularizadas. Alguns críticos se indignavam e argumentavam que uma mulher não deveria deixar sua casa e filhos para se meterem em coisas estritamente masculinas. No entanto, apesar das críticas e assédio moral sofridos por elas, muitas enfrentaram a situação e não desistiram.


O legado de mulheres como Leolinda Figueiredo Daltro é significativo para a história do feminismo no Brasil e a luta que empreenderam foi fundamental para o avanço dos direitos das mulheres no país. Elas dedicaram suas vidas à causa da igualdade de gênero, abrindo caminho para as gerações futuras de mulheres brasileiras.


[1] Na sociedade patriarcal, o poder é predominantemente exercido por homens, e as estruturas sociais, políticas e econômicas são organizadas em torno do domínio masculino. Nesse tipo de sociedade, as decisões importantes, os recursos e as oportunidades são controlados principalmente pelos homens, enquanto as mulheres ocupam posições subalternas.

[2] Segundo a Constituição de 1891, todos são iguais perante a lei; podem votar e são eleitores os cidadãos maiores de 21 anos, que se alistarem na forma da lei. Não há nada nessa Constituição que declare, literalmente, a proibição do voto feminino. Disponível em https://www2.camara.leg.br/legin/fed/consti/1824-1899/constituicao-35081-24-fevereiro-1891-532699-publicacaooriginal-15017-pl.html. Acesso em nov. 2023.

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