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Clarice Lispector: a estrela de todas as horas

Por: Juliana Primi


Nascida em 1920 na Ucrânia e naturalizada brasileira, Clarice Lispector é uma das autoras mais importantes (senão a mais importante) da literatura brasileira. Sua obra é caracterizada por uma escrita densa, introspectiva e filosófica, que ultrapassa fronteiras culturais e temporais, a partir da exploração da profundidade da experiência humana e mergulhando na psique das personagens.


A constante busca pelo sentido da existência, abrangendo temas como identidade, solidão e amor, faz com que seus romances, contos e crônicas desafiem o cânone literário no campo artístico da prosa, convidando os leitores para uma viagem de autoconhecimento. 

A Hora da Estrela é um exemplo de reflexão profunda sobre a condição humana ao narrar a história de Macabéa, mulher nordestina, órfã, pobre e datilógrafa, que se muda para o Rio de Janeiro a fim de conquistar uma vida mais digna. Conduzida por Rodrigo S.M., escritor fictício, tal estrutura narrativa testa as fronteiras entre autor, narrador e personagem.


Última obra publicada antes de sua morte em 1977, a história de Macabéa é a história daqueles que vivem à margem da sociedade e a quem a escritora deu voz. O próprio título sugere um momento simbólico na trajetória da personagem, ponto-chave que deve reverberar na consciência do leitor mesmo dias depois de finalizar o romance. Ao mesmo tempo que simboliza a luminosidade, a esperança, a estrela pode representar a efemeridade da vida.

Repleta de metáforas e de palavras que, costuradas, compõem uma linguagem poética, A Hora da Estrela está longe de ser superficial, trazendo reflexões sobre o estar no mundo, a finitude e a inexorabilidade da morte. Tamanha complexidade narrativa fez e faz com que seja estudada em contextos acadêmicos e estimada por aqueles que desejam uma literatura que transcenda os limites impostos pelas convenções literárias.


Herméticos ou incompreensíveis, assim eram rotulados os livros de Clarice Lispector. Assim também era a escritora, a Esfinge do Rio de Janeiro, como a denomina Benjamin Moser, um de seus maiores estudiosos e biógrafos, ou como disse o poeta Carlos Drummond de Andrade quando ela morreu: “veio de um mistério, partiu para outro”. Ler Clarice é tentar decifrar o indecifrável, é notar que se é estrangeiro dentro da própria terra.


Bibliografia:

LISPECTOR, Clarice. A Hora da Estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 2017.

MOSER, Benjamin. Clarice, uma biografia. São Paulo: Cosac Naify, 2009.


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