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ARRANJOS FAMILIARES NA ATUALIDADE

Por: Renata Gazzinelli


O modelo clássico de família, que a maioria de nós conhecemos , e em que o casamento era visto como uma instituição indissolúvel, começou a ruir na segunda metade do século passado. Muitos de nós assistimos acabar o amor entre nossos pais, porém o casamento sobrevivia, em nome da união familiar.


Hoje as famílias se organizam mais de acordo com os desejos e interesses pessoais, além da incessante busca pela felicidade individual, antes reprimida pela sociedade patriarcal. A autonomia conquistada pela mulher, a legalização do divórcio, a liberdade sexual e, consequentemente, o aumento do número de mães solteiras, ajudaram a compor o atual cenário da nova família.


Inaugura-se um novo tempo, bastante diferente da origem e do destino das gerações passadas: homens e mulheres sem raízes e sem metas, buscando apenas usufruir dos bens que a modernidade oferece.

As famílias hoje se apresentam com múltiplas configurações e papéis: famílias nucleares (pai, mãe e filhos), separadas, recasadas, madrastas, padrastos, famílias em que apenas a mãe ou o pai assumem a responsabilidade de tal (monoparental), famílias alternativas, constituídas por casal homossexual (homoparental), enfim, a família hoje recebe várias configurações, e a maioria delas são decorrentes de transformações sociais.


O que me move refletir sobre esses múltiplos arranjos familiares são como as regras, os valores, os comportamentos, a maneira de expressão da afetividade, além da hierarquia no ambiente familiar, constitui-se, e o valor atribuído a tudo isso. Pois acredito que as diferentes condições familiares influenciam o modo de exercer a paternidade/maternidade.


O que mais me convoca a atenção é certificar se essa falta de raízes e metas do “novo” casal não está desestruturando os indivíduos que compõem determinada família (pais, mães, filhos, enteados, etc.). A família é o espaço onde as pessoas se sentem pertencentes a uma identidade comum, um laço; porém neste espaço encontram-se diversidades, particularidades, anseios, medos, problemas e sentimentos individuais. Como cada envolvido nesse laço familiar se sente? Como se relaciona com os demais? Como nessa família plural convivem irmãos e pais que vêm de outros casamentos, de culturas e gerações diferentes?

Como estudiosa do comportamento humano, percebo o quanto a criança e o adolescente se miram no exemplo dos pais; e são nessas duas fases da vida que considero o melhor momento para firmar o compromisso com valores morais como a compaixão e a generosidade, a tolerância pelo diferente, o amor à justiça, o sentimento de solidariedade, o respeito e a disciplina pessoal.


Um dos momentos mais marcantes no relacionamento familiar é aquele em que, conscientemente ou não, pais, filhos, agregados, enteados, abdicam do mito da família ideal – aquela em que as relações são de paz, porém superficiais. A família ideal habita apenas a fantasia, porque é na família que encontramos pessoas com seus inúmeros desajustes e contradições; é na família que se passa o filme real e verdadeiro da vida: aquele em que os personagens não são mera ficção, mas, sim, ocupam lugar de verdade: cada um do seu jeito, mas aprendendo a conviver uns com os outros, sem medo de vencer, ou de virar apenas um retrato na parede.


Finalizando minhas considerações, ofereço algumas dicas para os novos (e antigos) núcleos familiares, com o intuito de reavivar os ritmos e reacender os sentimentos que movem os seus integrantes, especialmente os pais, que são os primeiros responsáveis pela convivência familiar. O compartilhamento de experiências é necessário para a consolidação do vínculo pais/filhos/enteados. Ademais, outras pessoas emocionalmente significativas para a criança e o adolescente também participam desse processo de construção da identidade e do relacionamento saudável.


  • Não ter medo do passado; ele faz parte da história dos ex’s e dos atuais.

  • Evitar comentários maldosos, que nada constroem.

  • Aprender a lidar com o ciúme com leveza.

  • Saber impor-se com moderação e delicadeza.

  • Ter regras claras e firmes.

  • Delimitar o espaço de cada um; criar a política da privacidade.

  • Discutir os conflitos, sem engolir sapos.

  • Valorizar os direitos de cada um, independente da idade.

  • Conquistar os enteados com transparência e afeto, e os filhos com amor e integridade.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:


CARVALHO, Maria do Carmo Brant de. (org). A Família Contemporânea em Debate. São Paulo: EDUC/Cortez, 2000.

CHAUÍ, Marilena de Sousa. Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas. São Paulo: Cortez, 1989.

KALOUSTIAN, Sílvio Manoug (org.). Família brasileira, a base de tudo. São Paulo: Cortez, 2005.

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