Por: Valéria Barros
As mulheres brilharam nas Olimpíadas de Paris e não foi só pelas medalhas de ouro conquistadas.
O primeiro pódio foi o número de participantes; demorou um século desde a primeira participação feminina nas Olimpíadas, mas em 2024 finalmente o número de participantes masculinos e femininos se equipara.
A delegação brasileira foi composta por maioria feminina pela primeira vez na história; foram 153 mulheres e 124 homens que competiram em 39 modalidades. É preciso ressaltar que o Brasil tem um dos maiores programas de patrocínio do mundo para atletas que se destacam em competições vinculadas ao Comitê Olímpico Internacional (COI) e Comitê Paralímpico (CPI). A lei nº 10.891 de 2004 instituiu o Bolsa Atleta, que vinte anos depois, favoreceu 247 dos 277 atletas participantes.
Paris mostra ao mundo que tal marco não passaria em branco e descortina os jogos olímpicos homenageando 10 mulheres francesas que se destacaram nas artes, política e história com estátuas que ficarão como legado às margens do rio Sena, Simone de Beauvoir (1908-1986) feminista, escritora, filósofa e ativista social é uma delas.
Durante os jogos testemunhamos inúmeras cenas que ficarão na memória; vale ressaltar a aula de espírito esportivo da judoca italiana Odette Giuffrida que, mesmo tendo sido vencida pela brasileira Larissa Pimenta, ficou agachada no tatame amparando sua amiga que mal acreditava em sua vitória.
A jogadora de handball Tamires Araújo, também brasileira, levou sua adversária Albertina Kassoma, atleta angolana, no colo para atendimento médico, e o que dizer das americanas Simone Biles e Jordan Chiles reverenciando nossa Rebeca Andrade no pódio?
Essa edição teve mesmo uma aura feminina, nunca se falou tanto em vulnerabilidades emocionais, percebam que não falar sobre o assunto não significa que ele não exista ou minimize seu impacto, e isso se aplica em qualquer área, esfera ou circunstância. Ao relatar experiências pessoais, os atletas ajudam milhares de outras pessoas, homens e mulheres, a se identificarem e buscarem ajuda.
Segundo o site da Forbes, os atletas de alto rendimento, de fato, fazem um sem número de sacrifícios e abdicações, por esta razão é preciso que os profissionais envolvidos tenham consciência de que toda essa pressão não deve existir a qualquer preço, na prática do ‘no pain no gain’. É preciso reconhecer os gatilhos para não permitirem que a saúde mental se deteriore.
A rotina do atleta envolve lesões, cirurgias e dores permanentes, além disso a pressão por resultados, histórico de assédios e abusos aliados ao perfil psicológico perfeccionista, mal contornado, podem causar constantes sofrimentos emocionais especialmente para as mulheres que, muitas vezes, além de tudo isso, se veem obrigadas a escolher entre a maternidade e a profissão, por não serem oferecidas estruturas para acomodarem seus filhos durante as competições. Essa foi uma outra vitória conquistada fora das quadras, pela primeira vez a Vila Olímpica de Paris ofereceu berçário para que as mães atletas pudessem amamentar e conviver com seus filhos.
Não basta lançar mão de trabalho interdisciplinar que envolva ciência dos esportes; treinamento individualizado, nutrição, medicina esportiva, psicologia e reabilitação que resultam em benefícios tanto físicos quanto emocionais. É preciso um olhar atento para a complexidade humana. Demonstrar fragilidade, nunca pareceu ser uma opção para os atletas que, em geral, são vistos e cobrados como super-humanos. Foi preciso a força feminina tomar volume para que a vulnerabilidade, condição humana, entrasse em pauta e alguns outros direitos fossem conquistados.
As mulheres provaram que estão prontas; das 20 medalhas do Brasil, 12 foram conquistadas por elas. Que venham novas vitórias dentro e fora das competições!
Referências:
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